Há três décadas o projeto cultural Rua do Rasqueado promove o resgate e a preservação da música popular local
Vanessa Moreno
Há 30 anos nascia a Rua do Rasqueado. Seu palco era o antigo bar Hora Extra, na esquina entre as ruas Campo Grande e Ricardo Franco, região central do Centro Histórico de Cuiabá. Ali as pessoas reuniam-se toda quinta-feira, no fim da tarde, para tomar uma cerveja gelada, comer um peixe frito e desfrutar do ritmo mais marcante da cultura mato-grossense: o rasqueado.
Dois anos depois do lançamento e fazendo muito sucesso, o bar ficou pequeno para tanta gente que queria dançar e se divertir. Foi então que o evento precisou ser remanejado para um local maior e a Praça Caetano de Albuquerque foi escolhida como palco.
Três décadas depois e com muita bagagem, esse projeto de grande relevância no cenário cultural está de volta para embalar e ocupar o centro da cidade com muita música e tradição. As programações começaram no último dia 14 e seguem até novembro com a mesma roupagem: sempre às quintas, a partir das 18 horas, na Praça Caetano de Albuquerque.
A Rua do Rasqueado foi fruto do sonho de alguém que tinha um só objetivo: fazer o resgate da música popular local nas noites cuiabanas. “A Rua do Rasqueado representa o antes e depois do que se tocava aqui em Cuiabá em 1990/91/92. Foi o retorno da noite cuiabana com a música regional e com a nossa dança popular”, relembra o músico, pesquisador e idealizador do projeto Milton Pereira de Pinho, que é mais conhecido como Guapo.
Além de causar uma efervescência cultural em pleno Centro Histórico de Cuiabá e mudar a rotina dos cuiabanos, o projeto teve outros marcos bastantes importantes como: trazer para o centro ritmos que só aconteciam nas periferias e abrir espaço para novos estilos musicais, que é o caso do lambadão e da lambadinha. A noite que antes só tinha em seu repertório musical pagode, axé e vanerão gaúcho, passou a ser embalada por ritmos culturais próprios e característicos da Baixada Cuiabana.
“A Rua do Rasqueado foi um divisor de águas, porque antes dela não tocava rasqueado e nem outras músicas aqui na capital, tampouco o folclore. O projeto foi um catalisador de tudo isso, do folclore da Dona Domingas, da volta das bandas, das pessoas acreditarem no nosso linguajar”, comemora, Guapo.
Com o resgate acontecido, talentos da música começaram a ser descobertos e evidenciados e agora, graças a Rua do Rasqueado, podemos desfrutar da voz e talento de músicos como Pescuma, Henrique, Claudinho, Vera, Zuleica, Dilson de Oliveira, João Eloy, Roberto Lucialdo, os saudosos Hamilton Lobo e Chico Gil, e tantos outros. Artistas que antes precisavam de incentivo e espaço, viram a bonança chegar através da ideia de um ativista cultural empenhado em preservar as raízes de um povo rico em história e cultura. Agora, de acordo com o pesquisador, há cerca de cem bandas que tocam rasqueado, lambadão e lambadinha e aproximadamente 99% desses músicos são cuiabanos ou são da Baixada Cuiabana. “Meu sentimento antes de mais nada é de glória e vitória, porque a minha ideia foi exatamente fazer isso”, declara Milton.
A importância da Rua do Rasqueado não se restringe a apenas disseminar a música e fazê-la conhecida. Ela vai além e promove também o turismo em Cuiabá. “Se não tem música no centro de uma cidade tão histórica como Cuiabá, o turista não para aqui. Turista gosta de música e de cultura”, ressalta. Além disso, proporciona ainda a ocupação de uma das regiões mais importantes para preservação da memória do povo cuiabano: o Centro Histórico de Cuiabá.
Nesta edição comemorativa, como forma de reconhecimento, Guapo vai premiar cinco bandas que estão há algum tempo nas “paradas musicais”, são elas: Scort Som, Banda Signus, Banda Legislativo, Banda Alto Astral e Bem Brasil. Além das bandas, o poeta, escritor, cantor e compositor Moisés Martins também será homenageado. O prêmio será um troféu que está sendo confeccionado pelo artista plástico Yuri Pompeu.
Embora seja um dos projetos mais importantes para a música local, a Rua do Rasqueado ainda não faz parte de um calendário fixo da cidade, por isso acontece em temporadas e através de muita luta por recursos financeiros para a realização. “Eu acho que um projeto desse e outros grandes projetos deveriam ser vitalícios, devia ter uma verba todo ano para ser feito, assim como acontece nas grandes cidades que cuidam da cultura”, lamenta Milton de Pinho, que se mostra esperançoso quanto aos projetos da próxima gestão que será eleita em 2024, não só pela manutenção do seu projeto, mas pelo cuidado do centro como um todo. “O Centro Histórico de Cuiabá está horrível, não tem nenhuma consideração por parte dessa gestão cuidando dos casarões, cuidando de tudo”, completa.
Mesmo tendo que superar os obstáculos causados pelo abandono do centro de Cuiabá, Guapo se dedicou e preparou uma programação digna de comemoração para os 30 anos da Rua do Rasqueado, com muito rasqueado, lambadão, lambadinha, música pantaneira, música mundial e concurso de danças. Confira a seguir:
14/09 – Abertura do Evento – Guapo, Banda Scort Som e Música Mundial: Jazz
21/09 – Guapo, Banda Sígnus e Música Mundial: Latino Americana
28/09 – Guapo, Renovação Banda Show e Música Mundial: Árias Erudita
05/10 – Guapo, Banda Os Originais e Música Mundial: Clássicos Brasileiros
19/10 – Guapo, Banda Os Federais e Música Mundial: Clássicos Populares Europeus
26/10 – Guapo, Banda Os Amigos e Música Pantaneira com Henrique Malouf
09/11 – Guapo, Paulo Monarco e Banda e entrega de troféus do concurso de lambadão e lambadinha
10/11 – Guapo, Roberto Lucialdo, João Eloy e entrega de troféus do concurso de rasqueado